pegar carona nessa cauda de cometa

ver a via láctea - estrada tão bonita - brincar de esconde esconder numa nebulosa
voltar pra casa no nosso lindo balão azul.

cintila.

Escrever continua sendo uma sandice necessária, voluntária, persistente.

Hoje já não sei o que escrever, sei apenas, que tenho muito pra falar,
daquilo que me mata, que me funda, me afunda, apenas não feches essa brisa.
melancolia já não é, ora, conceitos que se perdem, me provocam a incerteza de um vazio,
repleto de imaturidades, que são, sinceras, que gritam, arranham meu interior,
e que me acodem, me fazem precaver e exagerar. cada pranto, cada surripio!
e me vejo - incessantemente - a girar, torcer, contorcer, criticar. calar não!
ora, e porque não? hoje sou mais silêncio, ignoro. tudo que sai de mim parece insensato,
equivocado, mas jamais inútil. esse esforço violento. serelepe, lembra? ou algo assim.
não há ponto, nem converge, pouco diverge. é um imenso úmido, caloroso, antitético,
lacuna. lacuna. tremo. há tanto segredo, tanto pavor e ao mesmo tempo tanta sede.
o óbvio me abala. penetra, invade, pede permissão?
atravesso. sempre gostei desse verbo intransigente. atravesso. atravesso. travesso.
brinco, sempre brinco, nesse lugar que não é meu. pois é travessia, é de ninguém,
é esquecimento necessário, vertiginoso. não sei como retratar, refratar, isolar, ampliar.
é um querer de seguimento, de percorrer, de - porque não - fugir?
sei que me escondo, não me revelo. essa impressão de que retraio, e que emano algo tão irreal.
me assusto com o falso eu. não, não falso. com o pouco eu. ou seco eu, ou carente eu, ou insólito eu. não me arrisco. permito. atravesso.
esmoreço. esmoreço.
não, não sei o que adjetivar. esmoreço, essa sensação isolada, única. não resisto.
tenho muito pra gritar, arder, mas porque tão carrancudo? esse processo inverso, me destrói. e sinto que, aos poucos, nesse caminho de pedra, me perco, me esqueço, me espanto. mas,
que sempre cabe mas, é tão insensato. por isso, volto a brincar. a olhar naqueles olhos abertos, gigantes. olhos bizarros, de ninguém, mas que existe. existe em mim, aquele olhar.
me seguro neles, me assumo neles. mas nunca os alcanço. brinco, brinco, brinco de pérola.
quando, olhos meus, for embora, não fechem a porta. esse silêncio não pode ser vigor, ser jaula.
não deixe, não deixo, não! oh, muito tenho! não é crise, é fôlego. já não quero parar.
e por isso, rego meus ramalhos. religiosamente, sempre. eles são internos, transparentes, certezas.
e então guerra. isso, guerra. me sobe o torpor. porque, todos os dias, algo novo nasce em mim.
sempre, meu querido medo, sempre nasce algo. e me inflama, me arremessa.
esse impulso, tão meu - próprio. essas histórias que não estão presas em páginas de livros. elas lutam, explodem, me intrigam. gosto do som dessa ópera. é anestesia reversa, me consumo.
e a música se faz. o olhar me esquece. e eu me torno. essa alma visceral. provocativa antítese.
eu nunca desejei. nunca desejei. nunca desejei. pois já sou desejo.
me torno em nós, me torno em vós - me torno o que tão pouco sei conhecer.
e me arrebento, me instalo, me preencho. tanto faz, agora, não percebe?
e revejo os meus passos. oscilante. revigorado. incerto. ai, como é agudo!
me torno em tango, e de repente, tão só, de repente, sinto o cheiro da escuridão.
essa saga me leva ao ponto do penhasco - como amo!
e pulo, me jogo. essa viagem me psiquêando. eu canto a noite toda.
porque escuro? porque cego me vejo. vejo que nada sou e o doce do gozo me enlouquece.
esse anônimo eu. como amo! como sou louco. e de repente, vejo a graça.
o sorriso brota, meu sangue ferve. é isso, grito! é isso!
enquanto ando, flutuo, e rompo. me viro do avesso, tropeço.
e cato meu cigarro, sem acender. sei apenas que me perdi. e que doce aventura!
permissão! nunca, quero ser atirado. e inacabo.
percebes? inacabo. que ínfimo de felicidade. Eu me inacabo.
e nessa dança agonizante, sigo, atravesso!
por assim vou, por ali vou, por ontem vou, por amanha sempre irei. iria por hoje, teria ido por algumas horas atrás. e continuo. continuo o descontínuo paradoxo de a mim ser, ter e ver.

Faça-me tu (,) poema.

E de repente, me vem o sufoco.
O esgotamento mental e intensamente sentimental,
um exaurimento oco e frustrado,
de profundas sensatezes de nada, do nada, para o nada.

Não, não se trata do fim,
O fim é autenticamente ignóbil
é pretensão absurda
é ilusão subjugada.

Trata-se do impassível, do ilógico
do inflexível. Trata-se do estupro,
mais que violento de desejos e
esperanças surripiadas.

Trata-se do incêndio circense
que se cessa, mesmo que as cinzas continuem
a olhar, me olhar, apenas olhar,
como cúmplices de uma dor de ordem inteiramente
e egoistamente minha. Própria.

É o se reconhecer calabouço
de si mesmo, é descobrir que o estuprador
sois eu mesmo, vítima e bandido,
vítima por de mim sofrer veres inúteis
e de viciado ser por vazias intenções
já há tempos extintas.

Bandido por exigir, por austeramente
me vilipendiar e me condicionar
às infernais dores por mim
compradas quase que gratuitamente.

Caráter de devaneio.
É o prender-se e livre ser
É o binômio que acalenta
a beleza do poema que inútil já o é.
É frustração saborosa, é saber que o saber
já nem se sabe mais.
É perder o foco e se permitir rir
de si mesmo, por ser eu o único cínico de si mesmo
único palhaço que o fogo polpou.
Não por milagre,
mas por castigo sensato e merecidamente
justo.

Já não sonoro queres ser poema,
porque bruto queres permanecer estar.
Ó que indelicadeza, de mim poeta!
porque bruto só consegues permanecer estar.
Brinco com minha tempestade
fictícia, que jorram conceitos absurdos,
mas que ferem, esquartejam,
me incriminam.

Pares! Pares eu mesmo, para que
te possa ir, pois sou eu que te prendo
agarrado a mim,
que não quero te soltar,
porque tenho medo
medo de esmorecer.
De me queimar com as minhas
próprias fragilidades de
ser amado querer ser.

Não busco verdades, ó insensato
vocativo impessoal, meu penhasco ecoar
meu imenso mar de desconhecido
Pois já não me bastas mais como
uma vez, mentirosamente
já me bastou.
Fútil, exclamo, sem saber,
ao certo, ao que adjetivo.

Fútil sei que o és, ausente sujeito
pois ainda me encantas pelo que criei
pelo que de você tornei.
És, portanto, e estranho, és livre.
Liberto-te mim de mim
liberto-te de nós, o falso nós.
Eu que devo te libertar,
mas é tão nebuloso,
pois impotente sois.

Que me faço? Que me faço?
Faço-me te, pois já não há caminhos.
Não há semântica.
Não há literatura, não há filosofia.
Há apenas eu e o você meu, e o escuro.
Faça-me você.

Já que não sou eu essa expectativa que de mim veio ?
Tu sois minhas expectativas. Tu sois eu mesmo.
Você é obra minha. E eu sou teu.
Ai! Assim, confunde-me!

Ás vezes, passo a acreditar, que
é isso que me restas, discursos,
sistemáticas, poéticas.
Ora será esse aquele fim que de inicio neguei ?
Já não o sei mais.
Saber, sabes, sábio.
Brinco, e minto, me minto sorrindo,
pois são essas palavras que me dão
sua textura, sua cor,
seu beijo, seu fálico,
seu arfar.
Palavras vilãs, que tanto apreço vos tenho!
Me manténs vivo, ou morto, já tanto faz!

E no fim, que já não se trata do fim antes dito,
vejo que preso não estou, nunca estive.
És aí que cabes tu, palavra fútil.
Ou somente fútil.
Não emerges sentido, pois sentido quem lhos dá
sois eu, meus anseios e essa esferográfica.

Tu já me esqueceu, disso eu sei,
não sou cego por completo.
E essa frase, nessa frase,
uni-se as palavras que de mim soerguem,
as mais vilãs,
as mais malvadas,
e as mais que, por mim,
injustiçadas foram.

Sabes? Não quero desapego
Nem apego.
Quero o des,
quero o a,
quero o pêgo.
Quero-os pra mim!
Pois fútil vos sois
te recorda?
Sem sentidos sempre foi,
te sente?

Assassinado palavras por palavras,
de te me esqueço,
te jogo às minhas lembranças,
donde me atormentas tanto.
Apenas balbucio
minha febril e ardilosa escrita,
já que dela posso ser,
posso ter,
posso te ser,
te des,
te a,
te pêgo.

Ó caprichos, por que me confundes tanto?
Bagunça, bagunça, guerra.
Tu és guerra em mim,
ou sou eu guerra em ti, hipotética obra prima.
O silêncio quer me calar, poema!
Ou és tu poetas de mim ?
Ou melhor, és tu, poema, que me criou,
que te criou, que nos destruiu,
que nos criou,
que nos tantos verbos que aqui possam caber posso pôr.
Já nem me importo.

Tu um dia se tornarás
monossílabas que pesadas são, não é ?
Tu um dia se tornarás
poeta do meu poema
e eu o leitor, a crítica,
a platéia.
Nem sei que autor já o és.
Poema órfão, poema de dois pais.
És tu um poema de verdade?

Ó! Tu, um dia, meu amor, pois primeira vez
que aqui o chamo,
se tornarás esquecimento?
Se tornarás recordação pacífica
ou memórias de que uma vez vivo já fui ?

Pois agora sois perguntas.
Ou interjeições, ou quiza patavinas.
Sois tanto faz, pois o importante,
é que sois o é. Percebes?
Sois o és.
Letras soltas, postas,
perdidas.
Não, fútil nunca fostes.
Nem tu poema, ó crime que cometi!
És parte do meu crime, como ele o és também.

Ou não, crime nem seja.
Essa visão romântica,
comprada,
mitigada e irrefutada.
E agora, já perco os pés
das próximas palavras,
pois confuso estou, não é mesmo?
Tenho medo, poema,
medo de tu, poema,
de um dia, poema,
por fim,
poema,
eu vir a te terminar.





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